Temos vivido dias tristes,
confusos, preocupados, corridos, e não percebemos os reais valores que nos
acompanham. Enquanto adultos, vivemos momentos conturbados, em que sentimentos
se misturam, e sempre nos vemos amargurados ou angustiados com algo. Precisamos
constantemente resolver algo, repensar alguma coisa que aconteceu e acharmos
culpados para o que não queremos enxergar e então, cobramo-nos pelas atitudes
que tivemos e que não foram aceitas, ou bem vistas pelos outros.
Fica ainda pior quando
refletimos toda essa insegurança ou frustração pessoal em nossas crianças e
adolescentes. Sem percebermos, fazemos com que eles mesmos se envolvam em
nossos problemas ou que tenham reações inesperadas. Sem nos darmos conta da
situação e do que tem causado tanto cansaço emocional em nós adultos,
respondemos de forma grosseira para os filhos e produzimos neles uma imensidão
de possibilidades negativas em reagir contra outros que venham incomodá-los. Dessa
forma, não notamos, mas nossos adolescentes estão ficando sem paciência, sem
refletir sobre suas ações e cansados da forma como eles mesmos se tratam. As
relações entre eles têm se desgastado e percebo cada vez mais no ar uma
resposta natural de “não estou nem aí para seus problemas” afinal, para eles,
seus problemas são sempre maiores e insolúveis.
Durante as orientações
educacionais que faço numa tentativa de fazer com que percebam o outro, eles
desabafam, dizendo “meu amigo foi grosseiro comigo” ou “não aguento mais a
forma como falam comigo”. Por mais que procure ponderar a situação e ouvir os
dois lados nessa relação amigo com amigo ou amigo com colegas de classe, cada
vez menos um deles consegue perceber que o outro também possui sentimentos, e
nem sempre a verdade que ele pronuncia é real. No último dia 14 de abril, de
2011, muitos adolescentes lançaram a ideia do “Dia do Abraço”, fato que me
chamou muito a atenção. Mesmo sabendo que o “Dia Internacional do Abraço” seja
22 de maio, acredito que necessitavam demonstrar sentimentos mais nobres,
interessantes e afetivos. Visualizei um grande movimento de amigos que se
abraçavam. Algumas tentativas de abraçar chamaram-me a atenção, pois não foram
tão receptivas quanto esperadas, já que algumas aproximações não eram
bem-vindas.
Será que, se todas as
famílias preparassem seus filhos para serem mais receptivos, amorosos,
respeitadores e humildes de coração, não teríamos tido resultados mais
positivos? Talvez fossem mais espontâneos, e mesmo que alguns não quisessem
participar desse movimento, teriam sido gentis ou delicados em dizer não. Por
que participar das famosas “ovadas” é tão mais significativo e emocionante? Por
que é mais interessante fazer com que seu colega sinta-se constrangido? O mais
inaceitável acontece quando alguns pais auxiliam seus filhos a comprarem os
ovos para que estes ajudem no constrangimento de outros. Com certeza pensam:
“se aconteceu com o meu, qual o problema?” Não está no momento de refletirmos
juntos sobre atitudes tão simples, mas que fazem (ou farão) uma diferença
marcante na vida de nossos adolescentes?
Será muito bom usarmos esse
momento especial da Páscoa para termos um ótimo recomeço; pararmos por alguns
instantes, nessa data tão festiva, tão marcante para muitas famílias - seja
evangélica, católica, espírita ou de qualquer outra concepção religiosa - por
um momento de união familiar. Não
importa o motivo dessa ação; nesse momento da Páscoa, quando são enaltecidos
valores consumistas e financeiros, poderíamos desviar um pouco esse foco e procurarmos
uma forma de agradecer a saúde que temos, a família a qual pertencemos, a força
para trabalharmos e levantarmos todos os dias, as verdadeiras amizades que
conquistamos e o amor que nos une.
Talvez alguns considerem “piegas”
tais sentimentos e formas de agradecimento, mas tenho certeza de que fará uma
diferença significativa para o adolescente que possuímos em casa. Daqui há
alguns anos ele poderá nem se lembrar do chocolate que ganhou nessa data, muito
menos das broncas que ele recebeu sobre as notas, nem os castigos que lhe foram
aplicados, muito menos o “menu” que foi servido; mas certamente, lembrar-se-á com
nitidez do momento em que seus responsáveis pediram, por um minuto, a palavra
no almoço ou no jantar, para darem as mãos e agradecerem por estarem juntos e
respeitando-se mutuamente. Será uma forma de fazermos com que nossos filhos
cresçam num ambiente familiar mais sólido, amoroso e cheio de ações positivas
sobre os outros.
No futuro dirão “lembro-me
como se fosse hoje, que paramos, por um momento, demos as mãos e dissemos o
quanto valia a pena fazer parte dessa família. Isso me ajudou a tornar-me um
adulto melhor”.
FELIZ PÁSCOA! COM CARINHO.
ANDRÉA ROSA.