Texto: Encerrando
Ciclos.
Psicóloga e colunista colombiana Gloria Hurtado.
Sempre é
preciso saber quando uma etapa chega ao final. Se insistirmos em permanecer
nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras
etapas que precisamos viver. Encerrando ciclos, fechando portas, terminando
capítulos - não importa o nome que damos - o que importa é deixar no passado os
momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedido do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais?
Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu
sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu. Pode dizer
para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram
certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem
subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para
todos: seus pais, seu marido ou sua esposa, seus amigos, seus filhos, sua irmã,
todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos
sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando
tentamos entender as coisas que acontecem conosco. O que passou não voltará:
não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem
culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação
com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir
embora. Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir
recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os
livros que tem. Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível,
do que está acontecendo em nosso coração - e o desfazer-se de certas lembranças
significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. Ninguém está jogando nesta vida com
cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos. Não espere
que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu
gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir
sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda:
isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos,
promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre
são adiadas em nome do “momento ideal”. Antes de começar um capítulo novo, é
preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará.
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela
pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade. Pode parecer
óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante. Encerrando ciclos. Não
por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente
aquilo já não se encaixa mais na sua vida. Feche a porta, mude o disco, limpe a
casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é.
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