segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

O que temer na educação do seu filho? Por Andréa Camargo.

O que temer na educação do seu filho? Por Andréa Camargo.

                  Temer! Qual o verdadeiro significado desse verbo? No bom e velho dicionário encontramos “recear”. Mas quem teme, é temente. Nesse caso, o verbo deixou de ser “aparentemente” mal interpretado e passou a ser um adjetivo muito bem qualificado! Pois quem é temente, torna-se cuidadoso, possui respeito. Como o cristão que é temente a Deus. Ele é reverente a Deus. 
                  Nesse sentido, pergunto para você pai e mãe. Quanto seu filho é temente a você? Antigamente filhos eram tementes aos pais porque tinham respeito. O olhar dialogava, resolvia qualquer situação. Os filhos acreditavam que seus pais sabiam muito e esse muito era sobre todo e qualquer assunto. Eles praticamente se reverenciavam aos seus pais. Muitas vezes, nem percebiam que seus pais não sabiam resolver “quase tudo”. E se isso não acontecesse, estava tudo bem! Passava despercebido aos olhos das crianças e os pais pesquisavam na Bíblia, em livros e revistas que colecionavam das bancas de jornal, ouviam conselhos de outros familiares, experiências que deram certo ou no máximo erravam sem culpa. Seguiam seus instintos. Eram erros e acertos permissíveis e assertivos na grande maioria das vezes. Podemos perceber isso com a geração que hoje, tem entre 40 e 50 anos de idade. Que pessoas e profissionais são esses?
                 Que estruturas mentais, sociais, afetivas eles possuem? Quão se mostram autônomos em suas próprias decisões? Quão inseguros são? Como é sua estrutura física e sua saúde?
                  Hoje os livros triplicaram páginas sobre “dicas para educar”, existem dezenas de aplicativos para acompanhar os filhos, profissionais especializados por cada parte do corpo da criança, tecnologia de ponta para “ensinar” tudo, milhões de roupas, acessórios, brinquedos eletrônicos, muitos recursos que dispensam a presença dos pais. Uma fábrica para “isentar responsabilidades paternas”. Mesmo porque, muitos dos pais já não sabem mais mexer com toda essa parafernália tecnológica! Não acompanharam a “evolução” dos aparelhos. São os filhos que ensinam os pais. É aí que o perigo mora!
                 Quando um filho “ensina” os pais, ele assume o papel de “mandante”. Ele não tem maturidade em perceber que esse “curto tempo” é conhecido como “momento de trocar conhecimento”. Na cabecinha deles, os pais estão sabendo menos ou quase nada. Se os pais “deixaram” de saber, é sinal que os filhos não precisam temê-los ou reverenciá-los. Pois quem sabe, dita regras e normas. É detentor do saber. Não era assim na antiga formação pedagógica? Ou isso não mudou? Incrível, a criança e o adolescente perceberam que alguns de seus professores, pais, vizinhos, amigos, familiares que se mostram “sem informação” (não conhecimento) devem ser mandados, tripudiados, desdenhados e até ironizados em dados momentos.
                  Esses “pequenos ditadores” tiveram maturidade para “evoluir” sozinhos e detectar fragilidades dos adultos. Para isso, eles amadureceram. Sabem analisar falas que os pais proferem, detectam comportamentos (nem sempre edificantes) trazidas para casa após um longo dia de trabalho, escutam as mães falando mal de outras mulheres dentro de casa, os pais xingando o juiz no jogo, ouvem os “pré-julgamentos” que adultos fazem sobre outros adultos, as brigas entre o casal que só leva a perda de respeito, as crianças fingem dormir para escutarem conversas ao telefone dos pais (às vezes até gravam) e isso tudo vai formando seu temperamento, seu caráter e não só dando o direito deles imitarem os comportamentos “adultescentes” dos pais ou das referências que deveriam ser as mais maduras em casa, mas lhes dá o direito de perder cada vez mais o respeito, a credibilidade, a admiração e a estima. 
                   A criança deixa de temer esses adultos e passa a enfrentá-los. Nos finais de semana são travadas verdadeiras batalhas! Percebem que seus pais tiveram uma péssima semana e violam todos os níveis de paciência durante o passeio ou a viagem no final de semana, momento esse que deveria unir a família, apaziguar, ser um “momento agradável”. Esses pequenos tiranos sabem que muitos desses adultos se acovardam frente ao legado mais jovem e tudo que os acompanha, como suas imposições e exigências. Cabe-lhes chorar, gritar, fazer manhas e pirraças, ofender, humilhar, verbalizar muito do que ouviram e viram durante a semana. Sabem que não tardará e a batalha será ganha! Vencerão pelo cansaço, pois esses adultos estarão exauridos para travarem longos e determinantes diálogos onde quer que estejam. Para os adultos valeu muito mais à pena falar mal dos outros durante seis dias em seus lares, do que “perder um dia” orientando, conversando, rindo, jantando, lendo, aprendendo e ensinando seus futuros herdeiros comportamentais a reproduzirem o que seja mais útil e necessário para nossa sociedade chamada de “contemporânea”.
                  Infelizmente essa “sociedade” na qual todos nós fazemos parte, inclusive os péssimos vizinhos de plantão que não são exemplo de nada, não poderiam julgar como fazem algumas atuações mais firmes e decididas de alguns pais, que ainda acreditam na correção de seus filhos (em tempo hábil) seja com um “tapinha corretivo” (no lugar certo) ou um belo, sonoro e firme “não”, muito mais determinante para recuperar o que poderia se perder! Dizer “não”, tornou-se sinônimo de autoritarismo para especialistas “farsantes” da chamada “Psicologia Moderna”. Em busca da perfeição, os medos surgiram dentro dos pais modernos. Daqueles que não queriam “reproduzir o que sofreram”. Temer! Quem teme quem agora? Será que você sente falta de “temer” seus pais? Era tão ruim assim ser quase que um “devoto” deles? Apanhamos tanto e não “viramos gente”? 
                    Adultos estão correndo riscos de “temer” tanto seus “pequenos aprendizes” que muitos pais não podem quiçá dormir na mesma casa que seus filhos para não amanhecerem mortos! Cruel dizer isso? Infelizmente sim, mas necessário. Alguém precisa relembrar a parte mais “suja da conversa”! O que poderíamos achar improvável até alguns anos atrás, hoje é muito mais comum do que se imagina, as crianças iniciarem com pequenas manipulações, mentiras e comportamentos que justificamos com a frase “é só uma criança” ...até chegarem ao extremo da agressividade “não medida” (a morte - o homicídio) mesmo que não seja de um adulto, pode ser de outra criança ou um animalzinho. Muitas vezes não desejada, mas esperada. Aquele momento que mencionei anteriormente, o valioso “um único dia da semana” faria toda a diferença em muitos desses casos. Perfeito seria termos os sete dias de acompanhamento, diálogos, orientações e “nãos” ou “sins justificáveis”. Bem, que seja num único dia para justamente oportunizar momentos valiosos e preciosos com seus filhos, não necessitando “chegar à correção”, mas no momento “prevenção”!
                    Pais deveriam parar de justificar suas más condutas e falta de firmeza com seus filhos culpando o cansaço físico, o esgotamento do dia, a irritação que passam no trabalho, as perseguições profissionais, o baixo salário, os problemas governamentais, as mágoas acumuladas, a crise econômica, os ciúmes doentios que consomem horas do seu dia, a busca incondicional por corpos perfeitos, pelas aparências falidas familiares, a busca implacável por um “novo pai” ou uma “nova mãe” para os filhos que já tem, a necessidade de ser amado por outro adulto, a desesperada necessidade sexual que só trará mais problemas para dentro dos lares. São tantas as justificativas decretadas e condicionadas, que esses adultescentes não percebem que seus filhos estão se “desumanizando”. Talvez numa versão similar ou piorada deles mesmos. Depois não adianta reclamar na velhice que foram internados em clínicas ou casas de repouso porque ninguém teve paciência com você. Óbvio. Você também não teve paciência com seu filho. Mas por favor, não encurte o “tom da paciência” fazendo o que eles querem ou dando o que desejam. Não repliquem o erro do consumismo compulsivo! O mesmo que você tem quando anda pelo shopping. Filhos sabem que estão comprando mais do que podem gastar! Sabem que estão na beira da falência e devendo para bancos e até o condomínio! Que possuem belos carros, mas não tem casa própria. Essa conversa, eles também ouviram!         
                     Paciência para resgatar as conversas, brincadeiras saudáveis e regras a serem cumpridas. Educar! E olha que isso dá trabalho! Onde foram parar aqueles jogos divertidos que uniam amigos e famílias? As bolas de gude, pular elástico, amarelinha, bambolê, passa anel, os tijolinhos de montar que despertaram em muitos adolescentes a vontade de serem engenheiros e construtores. A brincadeira de acampar no quintal, fazer cabana no quarto, piquenique, esconde-esconde, pega-pega, queimada, lenço-atrás, peteca, aulas de culinária, forca, stop... O mais engraçado de tudo isso é que hoje temos espaços mais seguros para desenvolvermos essas brincadeiras dentro dos condomínios, mas as crianças e adolescentes não têm com quem brincar! Não têm tutores que organizem e passem a sabedoria popular e a cultura local de geração para geração. Quando vejo um grupo de crianças e adolescentes num espaço pequeno e em determinados condomínios ou quando os pais são solicitados por organizadores a brincarem com seus filhos fazendo um circuito de brincadeiras e atividades coletivas, fico encantada com o entusiasmo de todos! Isso sim é infância bem assistida! Ah... e não diga que isso tudo é responsabilidade da escola. Por favor! Seja inteligente!
                 Plantarmos esses momentos, cultivar saúde física, mental e social em nossas crianças é mais que urgente! Temos que parar de criarmos humanos fúteis, mesquinhos, fofoqueiros, perversos, mentirosos, raivosos, egoístas, escandalosos, promíscuos. Colherás o que plantares. Sempre haverá tempo para revertermos essa situação! Cabe a nós aceitarmos o desafio da mudança ou rejeitá-lo e escolhermos quais adultos deixaremos para amanhã. Por isso te pergunto: o que você mais TEME no processo de criação e educação do seu filho?   


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2 comentários:

  1. Infelizmente vivemos na sociedade da inversão de valores e de papéis. Lembro-me que eu e meus irmãos reconhecíamos a desaprovação de nossos pais só pelo olhar deles. Televisão na hora do jantar era proibida, pois esta era a hora de sentarmos juntos e falarmos como tinha sido o nosso dia e o que tínhamos aprendido com ele. Parabéns, ótimo artigo!

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    1. Alessandra, é sempre um prazer receber o retorno das pessoas que leem os artigos postados. Tudo aqui no Blog é feito com muito carinho, profissionalismo e pensando que pessoas possam usar! Agradeço muito sua parceria! Quanto aos valores familiares.... se não conseguirmos resgatar nosso passado, vamos melhorar o futuro que temos nas mãos!

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