Segundo uma declaração dada há algumas
semanas pelo renomado físico inglês Stephen Hawking, o avanço da inteligência
artificial pode extinguir a raça humana. A profecia parece catastrofista, mas a
afirmação deste que é um dos cientistas mais conceituados da atualidade foi
baseada apenas em fatos de nossa própria realidade.
Para Hawking – que, aliás, depende
da tecnologia para poder conviver com a doença que rara da qual é portador
(esclerose amiotrófica), o desenvolvimento de robôs pensantes é uma real ameaça
à espécie humana já que, segundo ele, as máquinas poderão nos substituir
completamente no futuro. Alguns cientistas já veem robôs fazendo boa parte do
trabalho humano em menos de 30 anos!
Noticiada em diferentes mídias no
mundo todo, a afirmação bombástica de Hawking não deveria ser motivo de
histeria. Pessoalmente, acho que apenas as atividades mais braçais vão
realmente desaparecer e que nós, humanos, ainda vamos ter muita serventia neste
mundo, por muitos e muitos anos. Entretanto, a declaração não deixa de ser um
alerta para repensarmos a sociedade do futuro. Afinal, sabemos que muitas
mudanças serão promovidas em nosso cotidiano a partir de novas descobertas, mas
a questão é: quais tecnologias devem realizar as rupturas mais profundas na
sociedade, tal qual a conhecemos? E quanto ao impacto no mundo do trabalho: que
profissões devem realmente desaparecer com tanta inovação?
Claro que as novas tecnologias
introduzidas até aqui não apenas extinguiram profissões como também criaram
novas. Resta saber se a balança vai se equilibrar entre as ocupações que
sumiram do mapa (como telefonista, datilografa) – ou se substituem – (o
cocheiro que conduzia charretes trocado pelo motorista) com as novas, como o
desenvolvedor de aplicativos ou o gerente de sustentabilidade…
E a atividade agrícola, essencial
para nossa sobrevivência, conseguirá escapar ilesa? Um exemplo de mudança já em
prática é a “agricultura urbana”, que propõe que o cultivo de hortaliças,
frutas e verduras fique mais próximo dos consumidores – em cada bairro ou
comunidade. Isso ajudaria a evitar o deslocamento dos alimentos para, além de
economizar tempo e dinheiro, promover a integração da comunidade na produção de
sua própria comida. O escritor
Peter Diamandis, autor do best seller “Abundância”, vai mais além nessa
questão e prevê que, no futuro, as plantações nas cidades serão verticais,
viabilizando o plantio e a colheita o ano inteiro, sem uso de pesticidas e sem
contaminação do solo. Essa nova prática agrícola permitiria não só obter
alimentos mais saudáveis, como também daria emprego à comunidade próxima e
diminuiria o trânsito. Além disso, por ser uma atividade com novas técnicas,
deveria gerar novas profissões também.
O futurista Thomas Frey, em seu
livro “Communicating with the future” nos dá exemplos concretos de algumas
invenções que determinarão a morte e o nascimento de profissões. Por exemplo,
em função da possibilidade de carros se auto-dirigirem (há textos sobre o tema
IG ou no Exame), algumas funções como motoristas de táxi, de ônibus e de vallet
parking, além dos policiais de trânsito, cairiam em desuso. Falar
de carros tão inteligentes pode parecer muito futurístico, mas as montadoras já
têm equipes de pesquisa trabalhando no assunto. Prova disso é que alguns
veículos já estacionam sozinhos! Da mesma forma, os aviões podem ser
pilotados à distância, fazendo com que a função dos pilotos mude completamente.
Outra grande invenção que pode
abalar as estruturas sociais são os drones. Eles já são
utilizados na Amazon e vão mudar dramaticamente algumas tarefas do nosso
dia-a-dia. Já sabemos que existirão drones de todos os tamanhos e formas, voando
baixo ou alto, para o bem e para o mal. E quando eles realmente forem aperfeiçoados,
os entregadores serão, certamente, uma profissão extinta. Talvez até mesmo os
correios, que viram sua atividade se reduzir à entrega de pacotes, acabem de
vez depois dessa…
Mas a
revolução não para por aí. Os drones também poderão nos substituir em
funções relacionadas ao controle da agricultura, em especial o plantio, que
poderia ser controlado à distância. Talvez por conta dos mesmos drones,
milhões de outros serviços braçais – como os de monitoramento (segurança e
vigilância) também estejam fadados a morrer. A esta altura você deve estar
pensando, como eu, no cientista inglês Hawking: a tecnologia talvez esteja indo
longe demais, aonde nem precisava! Parece não haver limites quando o assunto
são as mudanças que estão por vir. A popularização da impressão
em 3D, por exemplo, é outra novidade que vai, muito provavelmente, revolucionar
nossas indústrias. Descobri hoje – conversando com meu dentista – que as
obturações já podem ser feitas por moldes a partir de imagens 3D enviadas aos
laboratórios. Fiquei pensando que talvez os próprios dentes possam ser
feitos/redesenhados a partir da realidade que a tecnologia em 3D permite.
Certamente a função dos dentistas e protéticos e dos médicos também mudará
completamente!
Mas e a fabricação de produtos,
também sofrerá consequências? Com o avanço dos estudos da engenharia de
materiais, está provado que será possível construir dentro de casa artigos que
hoje estão em uma linha de produção, como mostra este artigo, feito já no
Brasil. Isso significa que os marceneiros deixarão de existir? E as fábricas,
como conhecemos hoje, serão repensadas? Será possível construir casas a partir
da impressão em 3D? Uma empresa chamada WASP, na Itália, já demonstrou que isto
é possível.
Big data, inteligência artificial, robótica…!
Quais outros profissionais isso tudo vai afetar? Será que os contadores e
auditores serão substituídos por programas de computador ou aplicativos de
celular? E as mudanças na medicina: ainda teremos médicos nos consultórios? Ou
chegará o dia em que, ao nos sentirmos mal, vamos entrar em uma farmácia (se
elas ainda existirem), nos dirigir a uma máquina que vai colher nosso sangue
com uma simples picada no dedo e vai, em seguida, informar que remédio tomar,
com posologia e duração? Existirão médicos e enfermeiros ou este trabalho
será feito por robôs? Um mistério para o qual teremos resposta em pouco tempo,
certamente.
Tudo isso prova que o futuro é
fascinante e cheio de novas verdades. Pensando no perfil da geração Y, esses
nativos digitais e loucos por tecnologia vão se adaptar a tudo isso com uma
facilidade enorme. Afinal, suas vidas têm sido pautadas por mudanças
constantes, entre bits e bytes. Mas eu sempre me pergunto: nós, das gerações
mais velhas, estamos preparando os jovens para essa realidade? Ou ainda temos
universidades voltadas para profissões do passado, com funções que já não serão
exercidas da mesma forma? Com estas novas mudanças, o conceito de “long life learning”
(aprendizado contínuo) do qual tanto falam os RHs, é mais urgente do que nunca!
Qualquer engenheiro, médico, economista, agrônomo, físico, químico ou dentista
que não se atualizar constantemente estará fora do mercado.
Acredito que a mudança deva
começar pelos profissionais de RH, em especial recrutadores. Será necessário
desaprender e reaprender a cada dia. A bagagem adquirida na faculdade, ainda
que o profissional tenha se formado no ano passado, provavelmente já não é mais
a melhor forma de conseguir um bom resultado ou performance. Sabemos que a
maior parte das vagas no Brasil não consegue ser preenchida por falta de
qualificação profissional, segundo o SINE. A taxa de aproveitamento é de
somente 25%.
E nós, em nosso papel de
família, como podemos ajudar nossos filhos e netos a se prepararem para este
cenário cheio de desafios? Como contribuir para que as escolas formem melhor
nossos pequenos para esta realidade que já bate à nossa porta? E as
organizações, como serão estruturadas daqui em diante? Vale lembrar que o
trabalho à distância é uma possibilidade positiva e que deve ser considerada
pelas empresas na relação com seus empregados. Mas vamos e venhamos: nada disso
deveria assustar tanto assim. Nem a tecnologia nem qualquer previsão me
convencem que seremos completamente substituídos por máquinas. Acho que elas
vêm sim substituindo gente e eliminando postos de trabalho (o inglês Tim
Harford, economista, escritor e colunista do Financial Times, escreveu há um
ano sobre isso), mas não dá para dizer que elas vão, literalmente, tomar 100%
das nossas tarefas. Senão, quem irá construir as máquinas e pensar na
tecnologia, afinal?
Pessoalmente, acho uma delícia
viver nesse ambiente de constante mudança. Essa vibenos
movimenta, nos faz sentir vivos e demanda nossa visão crítica constantemente.
Nos impele a rever e verificar se nossas ideias e projetos ainda são válidos e
factíveis, nos obriga a refletir e antever o mercado com seriedade. Em vez de
prever nosso fim enquanto raça humana prefiro aproveitar ao máximo as coisas
boas desse admirável mundo novo. Espero que você esteja do mesmo lado que eu.
http://dtcom.com.br/avanco-da-tecnologia-impacto-nas-profissoes-futuro/
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