Dia do
professor
Nesse dia tão especial quando todos
esperam receber textos dos “papas” da Educação e suas reflexões, trago outra
proposta. Dois textos de um jornalista William Lara. Antigo editor
da revista Páginas Abertas e atualmente o novo coordenador de conteúdo do Jornal da Comunicação
Corporativa, veículo da Mega Brasil Comunicação. Gostaria de
compartilhar o texto abaixo que retrata um novo olhar sobre a educação e o
papel do professor. Outro texto que sugiro foi publicado por William Lara “Desafio de ser professor”, pág. 19, no
livro “Relações do Ensinar” da Ed.
Paulus onde o próprio autor foi um dos organizadores.
Texto:
Educar com arte e a arte de educar
William
Lara
A tarefa da
educação é delicada porque supõe, em princípio, amor, desprendimento, doçura,
firmeza, paciência e decisão.
Diversas
obras já foram escritas sobre esse assunto. Quantas vezes professores e pais,
cheios de entusiasmo e esperança, compram este ou aquele livro com o intuito de
resolver um problema específico que os preocupa em relação à atitude de alunos
e de suas crianças?
Ao ler...
vê-se tão fácil! Os livros contêm, às vezes, infinidades de teorias, fórmulas e
até conselhos que parecem mágicos, com diálogos imaginados e reações quase
perfeitas dos alunos e das crianças diante da iniciativa dos professores e dos
pais. Se fosse apenas isso, na vida diária...
No entanto, a
realidade é outra. Quando os professores e os pais tentam colocar em prática alguns
desses conceitos que acabam de ler e isso não sai como eles esperavam, pensam:
"O que aconteceu? Onde está o erro, se fiz exatamente o que o livro
dizia?"
Acontece que "educar é uma ciência e uma arte; uma
arte porque não tem regras fixas, ou seja, cada caso é diferente, cada
circunstância é única".
Um pequeno
texto, uma palavra, um gesto, uma pintura, um desenho ou uma ajuda em uma
situação em que não esperávamos pode preencher uma vida, mudar seus horizontes
e abrir possibilidades para nós mesmos, pois muitas vezes entender, explicitar
ou descrever é um bem, um exercício.
Então...
O que podem
fazer vocês, professores e pais, quando se sentem desorientados e aflitos? Às
vezes querem se dar por vencidos ou descarregar a responsabilidade em um
terceiro (coordenadores, psicólogos, etc.). Mas, no fundo, todos sabem que é
sua responsabilidade dar aos alunos e filhos as ferramentas e respostas de que
necessitam. São os educadores que devem ensinar-lhes o sentido
da vida e capacitá-los para vivê-la.
O objeto da
educação não está só no sentido literal do verbo “educar”, mas, sim, no modo
como o fazemos, a forma como prosseguimos pensando, o tipo de distinções que
apresentamos, a moral e a ética dos critérios em que baseamos o caminho a
percorrer.
Educar é como
ensinar alguém a andar ou a falar (nada de metafórico existe nessa comparação).
Andar verticalmente e falar é a educação mais fundamental do modo de ser quem
somos: humanos. Aprender a ler, a fazer contas e a dominar a técnica, o
conhecimento científico e o processo de desenvolvimento de mais e mais
conhecimentos no âmbito de uma comunidade em que estamos imersos é a mesma
coisa que aprender a falar. Todos esses aspectos que enquanto adultos nos
envolvem são distinções no âmbito do processo fundamental que nós próprios
somos: um erguer e um puxar, um indicar de possibilidades, um mostrar de
mundos, um incentivar e ajudar, um responsabilizar, autonomizar e cuidar.
Em resumo, educar, desde os
primeiros dias até os últimos, é deixar os outros serem humanos — ensinar, no
sentido de educar, é muito mais difícil do que aprender. E por que isso é
assim? Não apenas porque quem ensina deve dominar uma maior massa de
informações e tê-la sempre pronta a ser utilizada, mas porque ensinar requer
algo muito mais difícil, complexo e poderoso: deixar aprender.
Quem
verdadeiramente ensina passa realmente pelo aprender. Esse aprender, por sua
vez, deixa de ser revelado e tem seu fundamento na liberdade individual.
O que
aprendemos quando aprendemos a aprender? O que aprendemos quando somos
educados? O que é a educação? Com base em que a educação ganha seu sentido, sua
pertinência, sua vitalidade e seu caráter decisivo? A resposta é simples:
educar é deixar surgir o homem e suas possibilidades.
Por tudo
isso, a educação é essencialmente um apontar de possibilidades, de distinções,
de relações e de humanidade. Educar é abrir, é erguer, é questionar, é duvidar
e ensinar a duvidar, é ser modesto em saber ajudar. Quem deve então educar
quem? A resposta é a mesma que foi dada à pergunta “Quem ajuda quem?”.
Viver é
aprender. O tempo muda-nos porque tudo nos ensina. Passando o que passa,
aprendemos o que fica. O passado fica da forma como para cada um de nós as
coisas ganham seus significados, individualmente, em uma vida que é um
permanente ter sido e um constante projetar de possibilidades. Uma chamada pelo
nome, uma ajuda quando nada se esperava ou uma ideia tocada pelo entusiasmo,
pela imaginação e pela vontade de partilhar, um olhar de cumplicidade, uma
conversa sobre o que nunca se consegue ler, mas que sempre nos preocupou, ou
simplesmente o brilho de um momento, o vislumbre de uma possibilidade que dá um
sentido fundo ao que temos sido podem fazer muitas vezes tudo o que mais pode
marcar um caminho e uma forma de estar no mundo.
Poderão
questionar-se sobre que temas, assuntos, momentos ou histórias. Estamos aqui
para falar...A resposta é esta: sobre todos.
Na educação, o
essencial não é o assunto ou o conteúdo, mas a perspectiva, o modo e a relação.
Ou, antes, o objeto da educação não é um tema, como, por exemplo, a Geografia,
a História, a Matemática, a Literatura ou as Artes Plásticas. Aquilo sobre o
que a educação recai é um modo de ser, que cuida, que toma conta, que se
envolve, deixa-se envolver e deixa ser.
Ouvimos muita
coisa sobre educação nos dias atuais. Mas, tanto ontem como hoje, o homem é ele
mesmo a educação, o ser que se ergueu, que repara e que cuida. Cuidando e
ajudando, chamando e sendo cúmplices dessa chamada para a escolha constante das
infinitas possibilidades que cada um de nós tem pela frente, podemos abrir o
caminho e verdadeiramente educar e educar-nos.
Uma hora
é uma medida, uma bola é um passatempo e um conceito é um instrumento, mas cada
um de nós é todo o mundo. São todos os mundos do mundo que a educação tem por
tema. Assim, a qualquer momento em qualquer mundo, uma palavra, um gesto ou um
olhar pode entrar e não mais sair. Se tivermos sabido ou podido preservar e
deixar preservar esses momentos, podemos muito bem tocar não apenas naquilo que
no momento estamos fazendo, mas toda uma vida — e isso é verdadeiramente o
objeto do educar.
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