“Todos os nossos sonhos podem tornar-se realidade se
tivermos a coragem de persegui-los”.
Walt Disney
Com o número crescente de alunos com TDHA, Dislexia e tantas outras situações que exigem um olhar especial dos professores em sala de aula, muitos se encontram numa situação difícil, não sabendo lidar com esses alunos.
Se faz necessário reiniciarmos um processo de conhecimento e desenvolvimento de trabalho específico com esses alunos, visto que os colégios, de um modo geral, estão recebendo alunos com esses perfis.
Para iniciarmos esse relatório, afirmo que não são “alunos especiais”. Portanto, não se caracterizam como “inclusão”. São apenas discentes que devem receber, por parte do docente, um olhar mais atento, zeloso, cuidadoso e na medida do possível e do previsto, uma atenção diferenciada, não esquecendo ou deixando de observarem o restante da classe.
Percebo muitas vezes que alguns professores que verdadeiramente estão envolvidos com a educação e com seus alunos, são os primeiros a detectarem as dificuldades esses apresentam. Parabenizo-os por tal atitude e envolvimento, visto que o professor é um dos principais personagens envolvidos diretamente com esse trabalho e a pessoa que possui o maior contato com todos os alunos.
Digo também que faz parte do papel do verdadeiro educador, comprometido com seu trabalho, induzir e perceber o movimento da classe e de outros alunos a terem uma postura adequada frente aos colegas disléxicos e TDHA(s).
“O professor é o elemento decisivo na sala de aula. É sua relação pessoal que cria o ambiente, é o seu humor diário que gera o clima. Ele pode tornar a vida de um aluno infeliz ou alegre. Pode ser a ferramenta da tortura ou o instrumento da inspiração. Ele pode humilhar ou alegrar, ferir ou curar” - Dr. Haim Ginott, psicólogo educacional, para revista Profissão Mestre, abril, 2005, pág. 18.
Posso afirmar que sentiremos um imenso prazer, ao findar o ano letivo, vermos que conseguimos resgatar esse aluno e sucessivamente sua aprendizagem. Mais ainda, quando o aluno sentir-se estimulado em recomeçar o próximo ano com mais disposição em vir para a escola e aprender, pode ter superado mais uma etapa.
Para que compreendam melhor esses casos, segue abaixo, um resumo sobre:
- TDHA: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, que também pode ser chamada de DDA. Uma condição que inicia na infância e, muitas vezes, continua na idade adulta. Estudos comprovam que 3 a 6 das crianças na idade escolar sofrem de TDHA. Um número bastante significativo. Estudos realizados no mundo inteiro encontraram tendências genéticas e ambientais, as quais são hoje, consideradas as principais causas de TDHA. O que se tem de informações também é que existe um desequilíbrio entre as substâncias cerebrais: dopamina e noradrenalina. O tratamento em geral, pode ser feito através de terapias comportamentais, medicamentos ou pela combinação de ambos.
- DISLEXIA: também conhecida como distúrbio da linguagem (do grego) e da leitura (latim). Tem por base problemas de ordem neurológica, existindo também uma incidência expressiva do fator genético. O disléxico tem a área mais específica de seu hemisfério cerebral lateral-direito, desenvolvida que os leitores normais. Condição que, segundo estudiosos, justificaria seus "dons" relacionados à sensibilidade, artes, atletismo, mecânica, visualização em 3 dimensões, criatividade na solução de problemas (oral) e habilidades intuitivas. O disléxico normalmente aprende, porém de maneira diferente dos demais alunos. Seu tempo de aprendizagem é outro.
Para uma maior segurança de todos, relato abaixo algumas das maiores dificuldades (no geral) que esses alunos (com Dislexia e TDHA) possuem:
- Dificuldade de concentração: visto que qualquer barulho ou movimento interno (até de outros amigos) e algumas vezes, externo a sala de aula tirará o foco e a concentração desse aluno.
- Fixar e assimilar conteúdos: a memória é um dos pontos atingidos. Sua memória, geralmente, é curta. Lembrando-se apenas de situações mais estimulantes e interessantes. Normalmente seguidas de um processo físico, que o faça relembrar do que lhe foi explicado. Como exemplo: alguns alunos conseguem estudar em casa, batendo a bola na parede e falando as tabuadas em alta voz. Dessa forma, muito associam as batidas e o ritmo constante dessa, com o conteúdo que está sendo pronunciado.
- Executar tarefas em casa: devemos relembrar antes que alguns desses adolescentes encontram-se sozinhos para executarem suas tarefas em casa. E aqueles que possuem um respaldo familiar, não conseguem reproduzir com exatidão para os pais, o que foi solicitado pelo professor (em classe) para ser feito em casa. Quando os responsáveis verificam suas anotações na agenda ou no caderno, percebem que tudo foi registrado de forma incoerente ou pela metade. Por isso, raramente apresentam tarefas de forma completa e organizada. Sua localização espacial é outra.
- Dificuldade em interpretar textos: em classe, se veem sozinhos para lerem textos expressivos, complexos e longos e em “pouco tempo” (lembrando que para ele o tempo é singular). Quando conseguem finalizar a leitura do texto, já esqueceram dos detalhes iniciais do texto e para a maioria dos disléxicos não existe acentuação, nem pontuação.
- Dificuldade de resolver situações-problemas: pela mesma falta de interpretação coerente do enunciado do problema matemático, o aluno terá dificuldades de interpretar o que está sendo solicitado. A resposta surge errada porque fazem má compreensão da pergunta e não possuem concentração específica.
- Organização temporal e espacial: geralmente esses alunos não possuem organização quando ocupam as folhas do caderno, principalmente construindo e fazendo cálculos. Os números são colocados em desordem. Ex: 127 + 7 = ???
Algumas vezes conseguem organizar coerentemente a construção, porém o resultado da “conta” é registrado em outro lugar na folha. O professor terá que procurar “onde foi parar o resultado”.
- Participação oral: dependendo do caso e do grau da situação, o aluno é capaz de responder claramente e com muito mais facilidade, desempenho e confiança, quando solicitado, as respostas da avaliação escrita, de forma oral. Ou seja, se o professor conseguir organizar um tempo, entre uma aula e outra e confirmar com esse aluno o que o mesmo “quis dizer” com as respostas escritas, verá que ele possui conhecimento sobre o conteúdo. Muitas vezes não conseguiu reproduzi-lo adequadamente na prova escrita.
- Fazem troca de palavras e seus significados.
- Acrescentam ou extraem fonemas (caracterizando dificuldades com a ortografia).
- Possuem um tempo para execução das tarefas, diferente dos demais alunos (caracterizando lentidão na escrita e na leitura).
Para melhor desenvolvimento em sala de aula, sugiro abaixo algumas ações específicas para com esses alunos e de certa forma, uma possibilidade de resgate coletivo:
- Primeiras carteiras: os professores coordenadores de classe devem estar atentos a ocupação dos primeiros lugares na sala de aula. Geralmente são ocupados por alunos que trazem “problemas de comportamento”, para que o professor possa ter um maior controle sobre o mesmo. Sugiro, que se o aluno em pauta (comportamento) tiver um ótimo desenvolvimento cognitivo e intelectual, seja colocado na última carteira, para que não tenha o incentivo da “platéia” e sucessivamente os alunos com Dislexia e TDHA, possam ocupar os primeiros lugares na sala de aula.
- Avaliações: muitos pais e profissionais da área, que fazem os atendimentos específicos com esses alunos, solicitam para que os mesmos executem suas avaliações na sala da coordenação pedagógica ou em outro espaço reservado com mais silêncio. Caso isso não aconteça e esse aluno realize as provas coletivamente em classe, será necessário que recebam uma atenção a mais, por parte dos docentes na própria sala de aula. TOMANDO OS DEVIDOS CUIDADOS EM NÃO “DESTACAR” O MESMO. Para que não fique evidente que você estará alertando esse aluno sobre suas “possíveis respostas erradas” passeie por entre as carteiras, verificando todos os alunos e dentre os mesmos, releia algumas das respostas “dadas” por esse aluno. Para que o mesmo fique atento ao que escreveu. Se o mesmo quiser, você poderá se colocar à disposição, para que vá a sua mesa e tire uma dúvida (de leitura e escrita) e não conteudista!
- Ao fazer um pedido, ou ministrar uma ordem, que seja feita uma por vez. Sempre registradas no caderno ou agenda e verbalizadas claramente.
- Solicitar e perceber se o aluno pegou somente o material que será utilizado naquele momento. Caso sua carteira possua muitos materiais, o mesmo usará desses para se distrair.
- Solicitar a agenda e o caderno do aluno para verificar se as lições, atividades e trabalhos, foram corretamente registrados. Oriente-o sobre seus registros.
- Verificar se esse aluno fez corretamente a cópia da lousa, antes de apagá-la. Caso não o tenha feito, marcar a quantidade que falta (no caderno do mesmo) e solicitar que continue as demais escritas juntamente com o professor. Pedir para outro aluno, que empreste (na própria aula) o caderno, para que o aluno possa copiar as linhas faltantes, após o término da “cópia” coletiva.
Valem algumas dicas gerais a serem desenvolvidas, para colher de forma significativa, a compreensão do conteúdo a ser trabalhado, não só para esses alunos, mas para todos, transformando suas aulas, em processos mais interessantes:
- Intermediando as aulas expositivas, usar outros materiais visuais, coloridos, slides, pôsteres, filmes, gravuras, mapas, músicas, ritmos, sons, giz colorido, jogos dramáticos, recursos visuais, onde os alunos poderão associar o conteúdo ministrado, ao visual aplicado.
- Cartazes e outros papéis não pertinentes ao conteúdo, nem deverão ser utilizados para não confundir.
- A entonação de voz também é pertinente para que os alunos gravem o que está sendo dito. Como dramatizações, reviver uma história, fazê-los fantasiarem o lugar, a época, usar a imaginação, refletir uma ação, esperar e analisar a reação de outro colega; são formas lúdicas que ajudam na memorização dos conteúdos. Canais de facilitem a comunicação.
- Quando um determinado conteúdo for muito importante, chamar a atenção de todos para aquele momento. Use de expressões corporais para que assimilem e associem essa ação com o conteúdo. Geralmente professores que ministram aulas sentados, não conseguem bons resultados dos alunos na compreensão dos conteúdos novos.
- Emitir lição de casa SEMPRE, pois a mesma é um reforço do que foi aprendido em sala de aula. Porém, cuidado com a quantidade excessiva da mesma. Se solicitar lição de casa, a mesma deverá ser cobrada e resgatada em sala de aula. Tarefas para casa, não são registros para satisfazerem pais e sim alunos.
- Após solicitar um trabalho escrito e corrigi-lo na íntegra, deverá ser dado um feedback (retorno) para o aluno, comentando todas as possíveis trocas feitas por ele. Afinal, seria incoerente por parte do professor, solicitar trabalho e NÃO CORRIGÍ-LO. Pior ainda, pontuá-lo pela estética ou quantidade somente.
- Estimular as competências e habilidades de todos os alunos, reforçando sempre sua auto-estima. Reforçar acertos dos alunos é muito gratificante para eles!Parabenize-os. Afinal, você também gosta de ser reconhecido.
- Solicitar leituras de textos curtos e interessantes, associados com a matéria a ser ministrada, fazendo com que o aluno, em 5 ou 10 minutos, extraia a ideia principal do mesmo. Para que crie o hábito da leitura e interpretação.
- Solicitar produção de textos orais (para TODOS os alunos), registrando na lousa a produção coletiva, tendo a intervenção do professor, parágrafo por parágrafo do que for construído. Só depois oriente-os para que registrem no caderno,
- Repensar formas avaliativas curtas e diversificadas para todo o grupo, oportunizando assim todos os alunos que possuem habilidades diferenciadas de construção.
- Exemplificar o texto com situações do dia a dia.
- Mostrar para todos os alunos, qual será a dinâmica da sua aula naquele dia. Para que haja coletivamente uma organização. Não só do aluno, como sua. Registre um título específico para sua aula e até o objetivo da mesma. Caso sua aula seja num ritmo diferente do que vocês está habituado a ministrar, registre na lousa as etapas dessa aula.
- Retomar conteúdos anteriores, sempre que possível e necessário. Principalmente no reinício de um novo conteúdo. Dessa forma, você estará resgatando os conteúdos mínimos e necessários para que o aluno tenha uma sequência mental.
Para maiores aprofundamentos sobre Dislexia e TDHA, sugiro algumas bibliografias, as quais poderão ser indicadas pela escola para os pais desses alunos:
- Dislexia – ultrapassando as barreiras do preconceito. James J. Bauer, Editora Casa do Psicólogo.
- Hiperatividade – como lidar? Abram Topczewski, Editora Casa do Psicólogo.
- No Mundo da Lua: Perguntas e respostas sobre Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos, cujos direitos foram cedidos à ABDA pelo autor. Paulo Mattos. Lemos Editorial.
- Mentes inquietas: entendendo melhor o mundo das pessoas distraídas, impulsivas e hiperativas. Ana Beatriz B. Silva, Editora Napades.
- Princípios e Práticas em TDAH. Luis Augusto Rohde, Paulo Mattos e colaboradores. Artmed Editora.
- Filme: Prova de Fogo, com Laurence Fishburne, Ângela Basset e Keke Palmer.
ANDRÉA ROSA
04-08-2010
04-08-2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário